Amamentar ou não amamentar, eis a questão.
Guardei este depoimento sobre amamentação por mais de 4 anos. Adiei a publicação até o Lucas estar desmamado. Foram 3 anos e 8 meses de muito amor e uma conexão inexplicável. Em todo esse tempo aprendi muito sobre limites, necessidades e principalmente paciência. Mudaria algumas coisas no texto mas vou deixá-lo assim para lembrar das transformações que passei.
Nos últimos dias o tema da amamentação esteve em alta. A partir do depoimento de uma figura pública muitas mulheres se manifestaram contando suas dificuldades e como a mamadeira de leite artificial as salvou. Essa era minha história também, só que aí chegou o Lucas. Segurei esse depoimento até estar pronta para compartilhá-lo com vocês, espero que estimule outras mães a protagonizar a sua maternidade.
Hoje o Lucas completa seis meses. Meio ano de amor e leite materno. Meio ano de muita força de vontade e APOIO incondicional do pai para que minha vontade se tornasse possível.
Nas outras gestações, não havia acesso livre a informação (leia-se internet). As avós, os pediatras e mulheres mais velhas é que nos abasteciam com seu conhecimento. Tive o privilégio de ter sido amamentada até os nove meses e sentir essa confiança vinda da minha mãe. Nunca pensei que faria menos que isso, se ela conseguiu eu também conseguiria. Só que mesmo com a sorte de ter todas as variáveis a meu favor, por algum motivo perto dos quatro meses, depois de mamar, o bebê chorava de fome. Só uma mãe entende como isso pode ser desesperador, dar tudo de si e não conseguir saciá-lo. Na consulta com o pediatra a receita de leite artificial já tinha sido deixada como opção, ele só esqueceu de avisar que depois de provar a mamadeira é muito difícil se contentar com o peito. Tentei de tudo, amamentar enquanto dormia, no banho, mas se irritava com o fluxo. Chorei a cada mamadeira que dava, por vários dias. Essa situação se repetiu e nada que fiz conseguiu mudar o rumo. Toda vez que algum deles se resfriava, ou tinha uma crise de bronquite eu imaginava como seria se tivessem mamado por mais tempo.
Muitos anos se passaram até a chegada do Lucas. Durante esse tempo tinha lido algumas coisas a respeito e começava a achar que desta vez poderia ser diferente. Estava numa gestação complicada com indicação de repouso o que dava bastante tempo para aprender (e me preocupar). Foi aí que aconteceu o divisor de águas, uma amiga com bebê me convidou para participar do seu grupo de apoio a maternidade. Nesse espaço virtual, aprendi com a experiência de outras mães, entre elas profissionais da saúde, como explorar todas as possibilidades para chegar até os seis meses de amamentação exclusiva. Descobri o significado e a importância da expressão leite materno em livre demanda (se o bebê mama quando tem vontade, o leite é produzido o tempo todo). Aprendi sobre a confusão dos bicos, que é o perigo do bebê se acostumar com chupeta e mamadeira e rejeitar o seio. A importância da proximidade constante com o bebê para manter a produção de leite. Que o meu problema específico era não saber que aos quatro meses acontece um grande salto de crescimento, mas passa. E o mais importante, a necessidade de apoio no puerpério, a mãe precisa ser cuidada para cuidar do bebê.
Além de todas as informações técnicas baseadas em pesquisas, essas mães me deram algo que somente um outro ser humano pode oferecer; segurança. Eu sabia que se qualquer coisa desse errado poderia pedir ajuda. Sempre haveria uma mãe pronta a responder. Naquele grupo descobri o sentido prático da palavra sororidade (irmandade entre mulheres) que várias vezes se organizaram para visitar mães que nem conheciam e ajudá-las fisicamente. Tudo isso me preparou, permitindo tomar as rédeas de um momento extremamente delicado. Optei por um pediatra que apoiasse minha escolha. Desisti do quarto do bebê e coloquei o berço do lado da minha cama. Pedi para que ninguém desse chupetas e mamadeiras de presente (nas crises de choro, se tivesse uma chupeta em casa, eu teria caído em tentação), fiz uma grande pausa no trabalho e o mais importante, dividi todas as responsabilidades com o pai, sem ele seria impossível. Foram seis meses de pouco sono, de restrições alimentares e de dedicação exclusiva.
Minha dica para as futuras mães é; informe-se, procure um grupo de apoio, organize-se da melhor forma possível. Tenha certeza que o esforço vale a pena e que investir na amamentação é muito mais importante (e barato) que mamadeiras importadas no enxoval.
Obs.: Nenhuma mulher deve ser obrigada a amamentar se não o deseja.
Existem casos de mães que não produzem leite suficiente, a elas, acolhimento e tecnologia.
Não se pode cobrar amamentação exclusiva até os seis meses em um país onde a licença é de quatro, mas muitas mães conseguem voltar ao trabalho deixando leite congelado, heroínas.
Precisamos apoiar a primeira infância para garantir um futuro mais humanizado.
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